terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A culpa é dele!

Desde que ganhei uma TV, vez em quando eu assisto a alguns telejornais de bosta dos canais abertos. Embora sejam extremamente sensacionalistas, alguns deles relatam todos os dias dezenas de casos de violência contra a mulher e me choca perceber como é algo cotidiano e extremamente comum.

Além disso, pela internet circulam ainda mais informações sobre casos do mesmo tipo e, infelizmente, eu ainda tenho o mau hábito de ler os comentários das postagens. Me chateia que o machismo esteja enraizado de forma tão profunda que as próprias mulheres invertam os papéis e culpem as vítimas pelas agressões sofridas. Me decepciona ouvir/ler que se a moça já tinha uma filha de um casamento que deu errado, então ela não deveria procurar um namorado novo, afinal, morreu porque resolveu não seguir a vida sozinha. Me entristece ver tanta impunidade e descaso.

Talvez seja por isso que os discursos feministas incomodem tanto, porque são gritos em meio a um silêncio colossal exercido por uma sociedade inteira. De repente queimamos sutiãs e apontamos indicadores, nos negamos a vocação exclusiva de dona de casa - e, veja bem, não tenho nada contra e admiro muito quem consegue organizar uma casa inteira e se sente realizado com isso. Apenas desprezo as famílias que impõe essa função somente a mulher -, passamos a lutar por igualdade e travamos uma guerra que ainda está longe de acabar, porém que chegou até aqui independente de qualquer coisa.
Sinto muito por todas as mulheres que, por cultura, reproduzem o machismo e sentem uma imensa dificuldade quanto a desconstrução do mesmo. Ninguém é de ferro e admito me pegar muitas vezes falando e pensando coisas terríveis. É difícil desconstruir o machismo, pois junto com ele zilhões de outras coisas cairiam, como por exemplo chamar a amiga do seu namorado de piranha só porque você está insegura e tem ciúmes; ou criticar o tamanho da saia de alguém como se isso fosse pré requisito para alguma coisa.

Se sou mãe solteira, é porque meu relacionamento não deu certo - aliás, como muitas coisas na vida podem não dar - e isso não me torna indigna de continuar a minha vida e, em algum momento, querer compartilhá-la com outro alguém. Se estou andando as três horas da madrugada sozinha na rua, estou exercendo o meu direito de ir e vir, ninguém tem o direito de se aproveitar da pouca (ou nula) movimentação do lugar. Se eu bebi demais, talvez eu tenha extrapolado em questão dos meus limites próprios e precise de ajuda, mas isso jamais justificaria que alguém abusasse da minha pouca compreensão momentânea. Se eu gosto de roupas curtas, isso é um gosto pessoal meu, e se eu quiser ter vários parceiros sexuais, isso é um problema meu. Entendam - e reafirmo isso todos dias mentalmente para mim mesma - que não existe mulher fácil e mulher para casar, existe gente que tem vontade de fazer as coisas e faz, porque uma das melhores coisas na vida é matar o desejo. Não deveríamos reprimir nossos desejos porque ao nascermos mulheres fomos fadadas a uma vida infeliz e controlada.
Daqui há alguns meses vou estar colocando no mundo mais uma menina. Sei que talvez jamais seja uma boa época para ser mulher, mas alivia o meu coração saber que a coragem tem batido na porta de nossas almas para lutar por um pouco mais de espaço. Por isso, brigue mesmo, corrija a sua amiga quando ela disser "bem feito, ela bem que procurou", bata na mesma tecla vinte milhões de vezes se for necessário, mas não deixe a faísca desse novo momento morrer. A culpa é dele que se sentiu no direito de mandar, gritar, agredir, excluir, inferiorizar... Ela não é louca, burra, puta ou merecedora.

Um comentário:

  1. nossa amei sua opinião ! realmente ninguém é de ferro !

    www.nataliloure.com.br

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