segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Seu chefe não é seu amigo

Ao longo do último ano, transitei entre alguns vários empregos. Apesar de, e digo isso sem a menor falsa modéstia, eu ser uma excelente funcionária nas áreas das quais me presto a exercer, eu não tenho muita paciência para com patrões que colocam o meu bom senso e inteligência à prova.


Tenho muito orgulho dos trabalhos que pagam aluguéis e movem vidas, embora sinta uma pequena facada no peito toda vez que vejo um funcionário ser explorado e enganado de diferentes formas. No ano passado, quando saí de casa, arrumei o primeiro emprego que apareceu no meu caminho: atendente de padaria. Parecia exagero quando ouvia as pessoas reclamarem de trabalhos que extrapolam cargas horárias, principalmente porque quando se é contratado num desses lugares, as coisas não são colocadas dessa forma para você, como se fosse um abuso. É como se eles colassem uma nota na sua testa onde estivesse escrito "oito horas de trabalho em pé todos os dias - inclusive domingos e feriados -, folgas não determinadas para você não se planejar, apenas vinte minutos de lanche, um sorriso forçado no rosto e, em troca, não descontamos VT e INSS do seu pagamento". Seu chefe não é seu amigo. Depois disso, trabalhei em alguns outros lugares que, apesar de não serem tão escravos assim, sugavam tudo o que não podiam de mim. Por sorte e, hoje agradeço meu pai por isso, fiz alguns cursos de departamento pessoal/auxiliar financeiro e administrativo/etc que me forneceram base o bastante para reivindicar os meus direitos.

A gente vai descobrindo com o tempo que por mais que seu chefe soe amigável e generoso, quando o bolso dele ficar um pouquinho mais leve, o peso disso vai cair em cima de você. Pela lógica, na minha cabeça, se o rendimento está baixo, nem sempre é culpa do funcionário. Se a sua remuneração é uma bosta e seus direitos não são cumpridos corretamente, o seu serviço vai ser meia boca - exatamente igual ao tratamento do seu chefe para contigo. Se o seu rendimento for alto, você for um excelente funcionário e nada estiver errado, experimente adoecer ou engravidar. Patrão nenhum gosta de atestado e/ou funcionária grávida (o que mescla um pouco das duas coisas, no fim das contas); patrão gosta de empregado que cumpre os deveres, mas que desconhece os próprios direitos. A lição que fica após toda essa experiência de vida assalariada é que só não se paga o aluguel no fim do mês quem não se empenha para fazê-lo - já vendi sanduíche natural, panfletei, dei aula particular, vendi cerveja no carnaval - e não preciso de chefe abusado e metas absurdas vindas de lado nenhum.

Um emprego começa errado quando, desde o início, as coisas são pré determinadas errado. Não preciso que o meu chefe penteie o meu cabelo e coloque uma estrela dourada na minha testa a cada tarefa concluída com êxito, preciso que ele seja justo em relação aos meus direitos, como eu o faço com os meus deveres. Pleno século vinte e um: vai ter sim funcionária reivindicando os direitos trabalhistas, e se achar ruim, vai ter em dobro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário