Era primavera. Estava quente, abafado, mas o
vento tinha um toque frio, sereno. Um dia corrido. Estava matando o
tempo. Um encontro inesperado. Você tem um cheiro curioso, mistura de
baunilha com tabaco. Estava ansiosa, nervosa e você tranquilo, leve.
Conversamos. Eu tinha horário e você o dia livre. Sua roupa estava
amarrotada e seu cabelo desalinhado. Sorri sem perceber.
Voltei ainda incerta e você me puxou pela mão.
Acompanhei seus passos lentos, corremos. Gritos, sorrisos e silêncio.
Sua língua é tenra, agressora. Descobri lugares, coisas e pessoas. Seu
joelho esquerdo é mais bonito que o direito. Tem marcas de nascença.
Choveu enquanto fazia sol e você me esquentou. Decorei os redemoinhos
de seus cabelos e esqueci seu nome.
Eu queria mergulhar nos seus olhos, mas eram
rasos. Os olhos mais rasos que já conheci. Seu toque era áspero e
delicado, uma eterna dualidade que compõe sua essência. Eu queria
permanecer, mas tinha obrigações com minha sanidade. Você sorria e
cantarolava. Sua orelha era pequena e seus lábios frios. Tive que ficar
na ponta dos pés para alcançar sua nuca. Essa, talvez, tenha sido a
menor das nossas diferenças. Creio que seja por meio das
incompatibilidades que você me invadiu ou talvez eu só o tenha deixado
entrar por causa dos olhos rasos.
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